Março é o mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, um período que deveria ser marcado por reflexões e avanços em prol da igualdade. No entanto, em Mato Grosso, o que se evidencia é um cenário alarmante de violência, desrespeito e desigualdade. O estado está entre os que mais registram casos de feminicídio no país, e o domínio das facções criminosas tem ampliado ainda mais a brutalidade contra as mulheres. São histórias de assassinatos cruéis, de mulheres decapitadas, enterradas em quintais baldios ou jogadas em rios.
O caso mais recente, é uma verdadeira tragédia. O assassinato de uma jovem de apenas 16 anos para que seu bebê fosse roubado. Uma bebezinha, foi arrancada a força do ventre de sua mãe. Isso reforça o quão vulneráveis estão as mulheres e até mesmo seus filhos.
A violência de gênero não se resume apenas aos casos extremos de feminicídio. Muitas mulheres vivem diariamente sob ameaças, agressões e abusos psicológicos dentro de suas próprias casas. O medo de denunciar, muitas vezes impulsionado pela ineficácia das medidas protetivas e pela impunidade, faz com que essas vítimas permaneçam presas a relacionamentos abusivos. Casas de abrigo são insuficientes e a morosidade judicial muitas vezes coloca a vítima em risco.
Além da violência física e psicológica, a desigualdade de gênero se manifesta de diversas formas. No ambiente de trabalho, as mulheres enfrentam jornadas exaustivas, acumulando responsabilidades dentro e fora de casa. Enquanto o homem, muitas vezes, se vê apenas como um "ajudante" nas tarefas domésticas, a mulher carrega a maior parte dessa função. Essa sobrecarga impacta diretamente sua saúde mental, contribuindo para altos índices de ansiedade e depressão entre as mulheres.
Outro ponto crítico é a desigualdade salarial, que ainda é uma realidade no Brasil e, em Mato Grosso, não é diferente. Mulheres exercem as mesmas funções que os homens, mas recebem menos por isso. O mercado de trabalho ainda mantém estruturas patriarcais, dificultando a ascensão feminina a cargos de liderança e relegando muitas profissionais a posições subvalorizadas. Há setores dominados por homens onde as mulheres precisam lutar para serem reconhecidas e, muitas vezes, são levadas a trabalhar sem remuneração, sob a justificativa de que estão sendo "promovidas" por ocuparem aquele espaço.
A desigualdade também se reflete na falta de representatividade feminina na política. Mato Grosso ainda tem poucas mulheres ocupando cargos eletivos, o que dificulta a criação e implementação de políticas públicas voltadas para os direitos femininos. Sem voz ativa nas decisões, a luta pela equidade de gênero fica ainda mais difícil.
Diante desse cenário preocupante, algumas iniciativas desempenham um papel fundamental na proteção e no empoderamento das mulheres. O Disque 180, por exemplo, é a Central de Atendimento à Mulher, um canal gratuito e confidencial que recebe denúncias de violência, orienta as vítimas e encaminha os casos para os órgãos competentes. Da mesma forma, o Disque 100 atua na defesa dos direitos humanos, permitindo que qualquer pessoa denuncie violações, incluindo casos de violência contra mulheres e crianças.
No campo do empreendedorismo e da valorização da mulher no mercado de trabalho, a BPW (Business and Professional Women) Mulheres de Negócios e Profissionais se destaca. Trata-se de uma organização internacional que incentiva o empoderamento feminino por meio do desenvolvimento profissional e da capacitação das mulheres. A BPW está presente, inclusive em Chapada dos Guimarães, e busca criar redes de apoio e oportunidades para que mais mulheres alcancem independência financeira e posições de liderança.
Além dessas iniciativas, organizações locais e coletivos femininos também desempenham um papel essencial na conscientização e no suporte às mulheres em situação de vulnerabilidade.
Projetos de acolhimento, cursos profissionalizantes e campanhas de combate à violência são fundamentais para garantir que mais mulheres possam sair do ciclo de opressão e conquistar sua autonomia.
Dia da Mulher só terá real significado quando o respeito e a justiça forem uma realidade para todas. Mais do que uma data simbólica, este deve ser um momento para cobrar mudanças concretas e fortalecer as redes de proteção e oportunidades para as mulheres. Enquanto isso não acontecer, continuaremos denunciando, cobrando e exigindo políticas públicas eficazes que garantam segurança, dignidade e igualdade de condições para as mulheres.
Katiana Pereira é mãe, esposa, jornalista, protetora dos Pet's, diretora do site Alô Chapada e coordenadora de Comunicação da BPW Chapada dos Guimarães.
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