Era dia 11 de abril, por volta das 17 horas. Josiane Laura da Silva, 50, preparava a avó, Maria Afra da Silva, 90, para uma ligação de vídeo. Do outro lado da linha, Joana Silva, 60, e a mãe, Constância Conceição da Silva, 82, aguardavam a chamada.
Joana tinha o receio de que a mãe, com problemas no coração, passasse mal. A preocupação era justificável já que a ligação prometia mexer com a emoção dos envolvidos.
Constância e Maria são irmãs, filhas de Elibão Salustiano da Silva e Maria da Guia do Espírito Santo. Elas nasceram em Nossa Senhora do Livramento (42 km ao sul da capital), mas se mudaram ainda crianças para Cuiabá.
Apesar da ligação de sangue, elas não se viam há 74 anos, quando Constância, com apenas 8 anos, foi entregue para outra família que estava de mudança para o Rio de Janeiro, e se separou permanentemente dos familiares biológicos. Até o último dia 11, elas nunca mais haviam se falado.
Constância conservava alguma memória da infância. Lembrava o nome de algumas irmãs: Feliciana, Genuína e… Maria. No Rio de Janeiro, ela sempre contou para os familiares sobre a infância em Mato Grosso e sobre a família que deixou para trás.
Em março deste ano, Joana iniciou, nas redes sociais, uma busca por parentes de Constância em Cuiabá, na esperança de, quem sabe, encontrar alguma irmã ainda viva. De grupo em grupo, de contato em contato, ela chegou até Josiane, neta de Maria Afra, irmã biológica de Constância.
A conversa entre Joana e Josiane foi rápida em constatar que a mãe e avó delas, respectivamente, eram de fato irmãs biológicas. Além do sobrenome que compartilham, a semelhança física não deixou dúvidas para Josiane da relação parental entre as duas.
Josiane contou para a avó que havia encontrado Constância. Maria Afra, mais de 70 anos sem ver a irmã, se lembrou imediatamente dela. "Eu acho que, no coração, ela ainda tinha esperança de encontrar a irmã dela”, contou a neta.
Coube à Joana e Josiane organizarem o reencontro. Segundo as duas, a chamada de vídeo foi emocionante. Mesmo com a presença inexorável do tempo, as irmãs se reconheceram e lembraram a infância e o passado em Mato Grosso. A ligação durou cerca de 10 minutos apenas, mas reconectou um laço que havia sido perdido com o passar das décadas.
"Elas se parecem, elas falam sobre a mesma coisa. Elas se entenderam [de cara]. Agora estamos nos falando, trocando fotos", disse Josiane.
Agora, a ideia das famílias é promover no futuro um encontro presencial entre as irmãs. As condições de saúde de Maria e Constância, porém, dificultam o deslocamento de ambas.
"[Minha mãe] tem coração grande, usa marca-passo, além de outros problemas”, explicou Joana.
Maria Afra tem problemas nas pernas, que também dificulta a locomoção. Apesar das dificuldades físicas, as famílias têm esperança de um reencontro em "carne e osso".
Independente disso, a chamada de vídeo foi um primeiro passo, uma iniciativa que reacendeu a chama que apenas o amor de irmão é capaz de manter viva.
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