“Histórias para bois e outros bichos dormirem” é o título do livro de contos, que será lançado por Wagton Douglas no próximo dia 6 (quinta-feira), em Cuiabá. Ator, diretor teatral, bailarino, titereiro, coralista, flautista e pedagogo, o autor tem um currículo extenso e diversificado, e se reafirma como contista com o lançamento de seu segundo livro. “A literatura entra na minha vida como uma forma de experimentação - ao lado do teatro, da dança e do canto -, de me expressar e botar para fora situações, histórias que permanecem na minha mente. São sonhos, relatos de outras pessoas, frutos da minha observação”, afirma o autor.
A escritora, poetisa e amiga de longas datas Janete Manacá complementa: “Para o escritor, o ofício de escrever geralmente é um ato de transpor para outros espaços tudo que o toca, afeta e lateja nos seus sentidos. E nesse processo de esvaziar-se ele oferece ao seu eu interno a oportunidade de revisitar outras memórias acumuladas durante a existência. Isso, muitas vezes, começa no quintal da infância que com o passar do tempo expande-se para o mundo. O escritor tem ouvidos atentos, visão ampliada, enfim todos os sentidos bastante aguçados aliados à criatividade. Essas observações são muito perceptíveis nas histórias narradas pelo escritor Wagton Douglas, neste livro”.
Assim como o livro anterior (“Retalhos do cotidiano”, lançado em 2012), “Histórias para bois e outros bichos dormirem” foi publicado por Wagton com recursos próprios (pela Editora Z7, de Porto Alegre). O novo livro, a exemplo do anterior, também traz ilustrações do pintor Márcio Aurélio dos Santos e o autor se preocupou em buscar uma edição que valorizasse a obra do amigo.
A publicação de seus contos tem como pano de fundo a maior paixão de Wagton, que é o teatro, a linguagem cênica. Ele acredita que ter seus contos registrados em livro tornam mais viável a encenação de suas criações e isso já está acontecendo graças à parceria com o Coletivo LGBTQIAP+ de Audiovisual Mato-grossense (MT Queer), que elabora conteúdos para a internet (webséries e curtas-metragens) voltados para esse público.
Na noite do lançamento de “Histórias para bois e outros bichos dormirem”, na Sala Anderson Flores (no Cine Teatro Cuiabá), os convidadores terão a oportunidade de assistir à apresentação de dois contos em linguagem audiovisual. O conto “Os fantasmas da casa da fazenda”, que aborda a relação entre um homem casado e seu sobrinho, está sob os cuidados de Diego Baraldi.
O conto “O Falecido”, que traz a história de uma mulher que recebe de volta o homem que saiu de casa para comprar cigarros e a deixou sozinha para criar as filhas, será recontado por Elton Martins, idealizador do MTQueer. Wagton revela que entregou um terceiro conto (“O Segredo de Teseu”) para ser roteirizado por Ed Lopez, artista do Rio de Janeiro com quem trabalhou na minissérie “As tias”, porém a concretização deste projeto ficará para uma data posterior.
O segundo livro de Wagton Douglas reúne 11 contos, que tratam de temas variados e expressam a mente criativa do autor. As transformações (nem sempre positivas) vividas por Cuiabá, cidade onde passou a morar na adolescência; a morte abrupta de um jovem, vítima de afogamento; as aspirações e o final nada feliz de um cajueiro; os conflitos de integrantes de um grupo de teatro; um vilarejo onde o narrador caminha entre personagens que não pertencem mais ao mundo dos vivos são algumas das situações apresentadas pelo autor para atiçar a curiosidade do leitor.
Paulista de Marília, Wagton Douglas vem de uma família ligada ao comércio, mas logo percebeu que queria seguir o caminho das artes. Iniciou-se no teatro com a professora Marília Beatriz na escola técnica (atual Instituto Federal de Mato Grosso) e trabalhou com outros grandes representantes das artes cênicas de Mato Grosso como Liu Arruda, Glória Albuês e Luiz Carlos Ribeiro (na montagem do espetáculo “Rio abaixo, rio acima”).
Em um certo momento de sua trajetória, Wagton concluiu que precisava melhorar sua expressão corporal e se dedicou à dança, construindo um invejável currículo como dançarino. Em seguida, percebeu que deveria aperfeiçoar sua potência vocal e começou a participar de grupos de canto coral, sendo hoje integrante do Coro Experimental MT e do Coral Luz e Verdade. Diante da impossibilidade de fazer uma faculdade de Artes Cênicas em Cuiabá, optou por se graduar em Pedagogia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e, anos depois, percebendo a dificuldade de viver de arte, tornou-se funcionário efetivo da Secretaria de Estado de Saúde, onde atua como técnico em Assuntos Culturais e Educacionais. Um de seus trabalhos é a preparação dos chamados “doutores palhaços” junto com Eloá Pimenta, atriz e também servidora da SES-MT.
Toda essa bagagem contribui para que Wagton não perca a impulsividade e a determinação que fazem parte de sua personalidade empreendedora e destemida. “O filho acontece. Senti que estava na hora de colocar um novo livro no mercado”, afirma o autor, cujos contos revelam em alguns momentos traços de sua agressividade nata que, segundo ele, é uma forma de autodefesa. Mas Wagton garante que os contos nada têm de autobiográfico.
Escritor compulsivo, que prefere escrever à mão antes de levar o texto para a tela do computador, Wagton se diz influenciado por autores como Caio Fernando Abreu e Nélson Rodrigues. Porém, como contista cultiva estilo próprio, a ser conferido no livro “Histórias para bois e outros bichos dormirem”, a partir do próximo dia 6.
Serviço:
O que: Lançamento do livro “Histórias para bois e outros bichos dormirem”, de Wagton Douglas, com ilustrações do artista visual Márcio Aurélio dos Santos (Editora Z7)
Quando: Dia 6 de abril (quinta-feira), a partir de 19h30.
Onde: Sala Anderson Flores (Cine Teatro Cuiabá)