O som do ganzá, a dança do siriri, o cheiro de quebra-torto no ar. No último sábado (22), sob a copa de um mangueiral, o quintal do grupo Siriri Elétrico se transformou num verdadeiro centro de celebração da cultura popular. Foi ali, no coração da região Sul de Cuiabá, que o Instituto INCA (Inclusão, Cidadania e Ação) deu início à quarta edição do Ponto de Cultura INCA em Rede — um projeto que une tradição, formação e inovação para fortalecer os grupos de siriri e cururu da capital mato-grossense.
Ao longo de seis meses, os grupos Siriri Elétrico, Raízes Cuiabanas, São Gonçalo Beira Rio, Flor Serrana e Flor do Campo participarão de uma verdadeira imersão criativa, com oficinas que vão da maquiagem artística com foco em pele negra à cenografia afro, da dança ao empreendedorismo cultural. O objetivo é simples e potente: impulsionar a arte que nasce nos quintais e garantir que ela siga viva, pulsante e cada vez mais profissional.
“Ao investir nesses grupos, fortalecemos não apenas a arte, mas também a identidade e a autoestima da comunidade. É um projeto que gera impacto cultural, social e afetivo”, resume Nariel Iatskiu, coordenadora executiva e projetista do Ponto de Cultura.
Raiz que se expande
A iniciativa é uma continuidade do trabalho que o Instituto INCA desenvolve desde 2009 nos bairros da região Sul de Cuiabá. Financiado pelo Governo de Mato Grosso, via emenda parlamentar do deputado Wilson Santos e executado pela Secel-MT, o projeto está alinhado ao Plano Estadual de Cultura e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU — como o item 11, que trata de Cidades e Comunidades Sustentáveis.
Para o lançamento, o evento contou com uma experiência gastronômica oferecida pela Estação Gourmet da @65Box, que resgatou o tradicional quebra-torto mato-grossense, acompanhado de petiscos regionais — um encontro de sabores, saberes e celebração.
Oficinas e saberes compartilhados
Além da já iniciada oficina de Maquiagem Artística com o maquiador Luiz Cláudio, a programação contará com formações em:
Figurino e cenografia com identidade afro-brasileira
Coreografia e dança afro
Percussão com ênfase em ritmos afros
Produção cultural, gestão de eventos e redes sociais
Elaboração de projetos e finanças culturais
Networking e estratégias de fortalecimento de público
Um dos focos especiais será no quintal de Dona Matilde, no bairro São João Del Rey, onde atua o grupo Flor do Campo, identificado como um quintal quilombola. Lá, o projeto apoiará a criação de um novo espetáculo que mescla siriri e ritmos afro, além da valorização do visual e da identidade do grupo por meio de cenografia e figurinos afrocentrados.
Orquestra de Sucata: a música que transforma
Uma das grandes novidades do projeto é a criação da 1ª Orquestra de Instrumentos Alternativos de Cuiabá, também chamada de Orquestra de Sucata. A ação será coordenada pela Startup Social Anjos da Lata, que, ao longo de seis meses, realizará oficinas de construção de instrumentos musicais com materiais recicláveis, voltadas a crianças e adolescentes da comunidade. A formação e os ensaios ficarão a cargo do arte-educador Anselmo Parabá.
O resultado? Apresentações públicas, inclusão social e mais um capítulo de criatividade dentro da cultura popular cuiabana.
Pertencimento como potência
“O Ponto de Cultura INCA em Rede é mais do que um espaço de fomento à arte; é um ponto de encontro, troca e construção coletiva, reafirmando a cultura como um direito e um motor de transformação social”, reforça Nariel.
Seja no compasso do ganzá, no cheiro do café torrado ao fundo ou no batuque da nova orquestra feita de sucata, o que se vive nos quintais cuiabanos é mais do que arte — é resistência, é afeto, é a certeza de que onde há cultura, há futuro.
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