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Opinião Terça-feira, 01 de Abril de 2025, 18:00 - A | A

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ROSANA DE BARROS

A imortal Heloísa Teixeira

Rosana de Barros

Partiu, no dia 28 de março último, a importante e querida escritora feminista Heloísa Teixeira. Nascida em Ribeirão Preto no dia 26 de julho de 1.939, graduada em Letras Clássicas, ensaísta, professora, editora, pesquisadora e crítica literária.

A professora Heloísa, no ano de 2.023, foi a décima mulher a se tornar imortal na Academia Brasileira de Letras, ocupante da cadeira 30, e que anteriormente pertenceu à Nélida Piñon. A pensadora feminista se destacou em trabalhos na cultura e desenvolvimento social, e se tornou referência na poesia, relações de gênero, relações étnicas, culturas marginalizadas e digitais. Exercia a coordenadoria do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da UFRJ, onde dirigia o Laboratório de Tecnologias Sociais do projeto Universidade das Quebradas, onde há espaço democrático sobre troca de saberes e experiências em contextos multiculturais.

Nos últimos dez anos de sua vida, a pesquisadora dedicou-se à cultura das periferias, aos direitos humanos das mulheres, e às novas tecnologias para o consumo cultural. Ela se debruçou em vida para que pessoas com histórias de silenciamento pudessem ecoar e eclodir suas vozes, encontrando e proporcionando conhecimento. Aos 80 anos, declarou para a AzMina: “No momento que eu estou, com essa idade, o meu feminismo é uma formação continuada e enlouquecida. Quem passar na minha frente vai levar alguma coisa ou vai ouvir alguma coisa. É o que eu posso dar.”

Leitura obrigatória para as mulheres, a escritora foi organizadora da coletânea de artigos intitulado “Pensamento Feminista”, que se desdobrou sobre os seguintes temas: conceitos fundamentais; sexualidades no sul global; formação e contexto; e perspectivas decoloniais. São palavras dela sobre o primeiro livro da coletânea: “A missão deste livro é, portanto, a de mostrar o caminho no qual os conceitos centrais do pensamento feminista foram se desdobrando, sendo questionados e dando origem a novas formas de pensar e definir identidades, gênero, subjetividades e sexualidades. A sinalização desse longo processo que constituiu o léxico feminista vai certamente facilitar o estudo das tendências teóricas e o avanço dos trabalhos acadêmicos e políticos no contexto atual”.

Por muitos anos a escritora foi conhecida como Heloisa Buarque de Hollanda. Aliás, um sobrenome bastante conhecido, com personalidades que se destacaram pela escrita. Inclusive, em entrevista descontraída, afirmou que o sobrenome do ex-marido a abriu muitas portas, pois em fila de bancos, por exemplo, sempre a perguntavam de seus familiares, principalmente do Chico. Todavia, entendeu que o feminismo ofertou descobertas significativas, tal qual a de que deveria honrar a própria mãe, com o respectivo patronímico. Assim, antes do ingresso na Academia Brasileira de Letras, aos 83 anos, mesmo já tendo o nome consolidado, decidiu: “Não vou morrer Heloísa Buarque de Hollanda”. Assim decidiu para valorizar a história de vida da mãe: “Quero que minha mãe fale através de mim, meu pai já tagarelou demais”.

Tatuado o “novo nome” nas costas, entendeu que o “Teixeira” da sua genitora representava uma mulher cheia de vontades e meio oprimida. Representava mulheres que “assuntavam”, mas sem muito o que fazer, até para não ofuscar brilhos masculinos. Representava mulheres que a tudo viam e nada falavam. Representava aquelas que haviam sufocado sonhos pelo casamento e cuidados com o lar. Representava mulheres cujos parceiros possuem dependência visceral, e que devem estar sempre a postos, mas que nunca são lembradas nas conquistas dos “amados”. Representava a tantas que com voz, nada falavam.

Heloísa Teixeira foi muito mais... Foi, também, família... Das 11 tatuagens que ostentava, desde os 79 anos, várias são desenhos dos netos e netas: “Tudo do feminismo atual passa pelo corpo. E o meu nome está tatuado no meu corpo junto com a família, porque estou toda marcada pelos netos.”

Heloísa Teixeira, presente!

*Rosana de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT, do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso – IHGMT -, membra da Academia Mato-Grossense de Direito – AMD - Cadeira nº 29.

 

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