Um estudo recente realizado por 230 pesquisadores encontrou 24 novos sítios arqueológicos na região da Amazônia, que evidencia a extensão e a influência de sociedades indígenas pré-colombianas na composição florestal, antes da chegada dos colonizadores ao Brasil. Entre os estados que foram objetos da pesquisa está Mato Grosso.
O artigo, intitulado: “Mais de 10.000 obras de terra pré-colombianas ainda estão escondidas em toda a Amazônia” (More than 10,000 pre-Columbian earthworks are still hidden throughout Amazonia) foi publicado na revista Science, no mês de outubro, com a liderança do geógrafo Vinicius Peripato e do biotecnólogo Luiz Aragão, ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ao todo, 156 instituições, de 24 países, fizeram parte do projeto.
Um dos co-autores da pesquisa e professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Domingos de Jesus Rodrigues, conversou com o Mídiajur sobre sua experiência no estudo.
Doutor em Ecologia, Domingos relata que a pesquisa combinou dados arqueológicos com uma tecnologia de ponta, o LiDAR (Light Detection and Ranging). Este equipamento, que realiza detecção de luz e medida de distância, permite uma reconstrução 3D da superfície, removendo as vegetações digitalmente.
Segundo o pesquisador, foi realizado um monitoramento remoto, com os dados arqueológicos, da flora e modelagem estatística avançada para quantificar quantas obras de terra, chamadas cientificamente de “geoglifos”, ainda podem estar escondidas debaixo da floresta amazônica e em quais locais essas estruturas são mais prováveis de serem encontradas. “Mas os registros de muitas dessas estruturas têm sido publicados em área onde não há mais floresta”, relatou Domingos.
Com o estudo, será possível entender como viviam os povos originários antes da chegada dos europeus, indicando que a floresta amazônica pode não ser tão intocada quanto muitos pensam.
“Por exemplo, a terra preta encontrada em vários locais na floresta é indício de atividades agrícolas dos povos indígenas e mostra a existência de grandes populações locais. Outro ponto importante a salientar é que a distribuição e domesticação de, pelo menos, 83 espécies de plantas na Amazônia está associada às comunidades indígenas”, explicou.
Registros em MT
Os municípios onde foram realizados os estudos e a presença dos geoglifos em Mato Grosso são: Alta Floresta, Ribeirão Cascalheira, Nova Xavantina, Novo Santo Antônio, São Félix do Araguaia, Gaúcha do Norte, Porto Alegre do Norte, Santa Terezinha, Sinop e Querência.
Entretanto, Domingos relata que estudos envolvendo a tecnologia LiDAR, acoplado a um drone ou veículo aéreo, são caros, principalmente na dimensão da Amazônia, e por isso que a pesquisa ocorreu em apenas 0,08% da área total do bioma. O pesquisador diz ainda que, com o desenvolvimento de um modelo matemático e o cruzamento dos dados do LiDAR, foi possível concluir que há outras 937 estruturas arqueológicas conhecidas, podendo existir entre 10.272 e 23.648 estruturas pré-colombianas ainda não descobertas na Amazônia.
“Embora tenha registrado essas obras no Mato Grosso, o estudo foi realizado em diferentes pontos na Amazônia. Parte desses geoglifos estão em terras preservadas e em áreas indígenas, então, como temos a segunda maior população indígena do Brasil, podemos esperar que novas estruturas sejam encontradas no Estado”, projetou o pesquisador.
Questionado sobre a continuidade da pesquisa, Domingos disse que há a pretensão em seguir para o próximo passo, mas que é necessário adquirir recursos, visto a dimensão da Amazônia.
“Com a Amazônia sendo o tema principal na COP28 e, principalmente devido aos eventos extremos de clima que estão acontecendo, é importante entender não apenas onde estão os novos geoglifos, mas também compreender um pouco mais sobre essas civilizações pré-colombianas” declarou.
* Com informação MidiaJus
Entre no grupo do Alô Chapada no WhatsApp e receba notícias em tempo real