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Opinião Sábado, 17 de Agosto de 2024, 12:24 - A | A

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Elismar Bezerra Arruda

Assistimos ao triunfo da ignorância e a morte da escola?

Elismar Bezerra Arruda

Diz-se alhures, que vivemos no tempo do conhecimento. Afirma-se isto nos meios de comunicação, em palestras, cursos e conversas de botequim, como se em outros tempos tivéssemos vivido sem conhecimento; ou, como se em algum estágio do desenvolvimento humano, o conhecimento não tivesse ocupado um lugar central, estratégico, determinante, para o modo de ser e viver das pessoas.

Na verdade, essa afirmação não expressa ignorância, nem é alguma manifestação ingênua de quem não sabe. É intencional, e busca negar o que parece afirmar. Vivemos o tempo de uma contradição extraordinária que, obviamente, passa despercebida às grandes massas: por um lado, temos um revolucionamento jamais visto nos meios de comunicação de massa, na produção, acesso e difusão de informações, em quantidades e abrangência nunca antes alcançadas; por outro lado e ao mesmo tempo, desenvolve-se um vigoroso e competente processo político-pedagógico de ignorantização das massas trabalhadoras, através desse instrumental e do referido conteúdo – e pela negação da Ciência e dos espaços e tempos destinados especificamente para a sua produção, desde à base.

A informação é importante, mas não é conhecimento, ainda. Saber os índices da produção de grãos em Mato Grosso, por exemplo, não é suficiente para o indivíduo conceituar concretamente a economia estadual, hegemonizada pelo Agronegócio; aliás, sequer lhe dá condição para situar a produção de grãos, por suas significâncias e problemas, na realidade estadual. Mesmo tudo isso possa ilustrar, e ilustra, um papo borracho de assalariados da classe rica, no barzinho da esquina. Vê-se ali, uma informação sobre um aspecto da realidade ser comentada arrogantemente, como se fosse o mais acabado conhecimento sobre a totalidade que constitui; quando, per si, não eleva em nada, a compreensão da realidade – senão, infla a ignorância de sabujos!

Sim, são tempos de bizarrices. As massas trabalhadoras, pela facilidade de acessar informações pelo celular, são levadas a acreditar que o conhecimento está “democratizado”, que não está mais restrito às “elites”; ou seja, com a parafernália de instrumentos e informações digitais disponíveis, creem que o conhecimento se dá, agora, espontaneamente, a qualquer um, em qualquer lugar, a qualquer momento, sobre qualquer coisa ou fenômeno. É como se desejo de saber tudo, mas, sem estudar, estivesse sendo realizado por essa perversa fantasia; que só se sustenta mediante a arrogância que os poderosos lhes inoculam, inclusive para se sentirem membros entusiasmados da grei dos pobres da classe rica, avessos a livros.

Não percebe, o néscio, que a consequência imediata desse seu comportamento, é a negação da Escola, da Ciência, do Conhecimento. Mesmo sabendo que não estudou para saber, manifesta-se como quem sabe, para desqualificar a Escola de Educação Básica da sua importância econômico-social, de lugar de difusão dos conhecimentos qualificam os próprios filhos para a escolaridade superior. Para essa gente, a Escola passou a ser apenas um lugar para abrigar e cuidar, de modo que os Professores e Professoras, passaram a ser tratados como meros cuidadores de crianças e adolescentes. Daí que, menos de 10% dos pais e mães acompanham a vida escolar dos filhos, não cobram as tarefas, nem perguntam sobre a aprendizagem; culpam, raivosos, a Escola.

Ou seja, não aprender, não é problema; o problema se afigura, quando algum livro, que nunca leram, for “denunciado” como propagador de “ideologia de gênero”, ou de ideias “esquerdistas”. É quando a ignorância, elevada à enésima potência, manifesta-se arrogante e com ódio a todos os que se lhes afiguram com conhecimentos superiores aos seus; daí, seguem com essas absurdidades, defendendo que um reles treinamento, ofertado pelo Sistema “S” ou não, tem mais importância (pela possível utilidade imediata), que os conhecimentos difundidos pela Escola de Educação Básica. Veja como a ignorância lhes rouba o horizonte...

O Conhecimento não existe por si mesmo, decorre de determinada materialidade; e o seu desenvolvimento dá-se, sempre, segundo as necessidades e interesses humanos – de modo a se materializar na forma de novas tecnologias, novos equipamentos, máquinas, novos métodos de trabalho, etc. Assim, revoluciona o processo produtivo, cria novos produtos e qualifica a produção, elevando-a às produtividades extraordinárias que testemunhamos – pelo que se efetiva como meio de produção. Ora, é a propriedade dos meios de produção (terra, máquinas, instalações industriais etc.) que dá ao empresário a condição econômico-social de classe proprietária (por conseguinte, de dirigente da sociedade, inclusive dos seus governantes); daí que, assim sendo, também o conhecimento precisa ser apropriado pelo empresário.

Ocorre que, sem conhecimento, não é possível ao trabalhador ter capacidade produtiva; com efeito, é necessário qualifica-lo com determinados conhecimentos para que possa produzir com a qualidade necessária ao lucro do empresário. Impõe-se, então, um grande desafio à classe proprietária: como educar esse Trabalhador, sem que aprenda e saiba mais do que é necessário à produção? O problema é tão grave para a classe dos empresários, que, Adam Smith, segundo Marx, recomendou-lhes que educassem as massas trabalhadoras, “mas, em doses homeopáticas”.

Daí que o direito de frequentar uma Escola, só se confirmou para os Trabalhadores, à custa de muitas lutas; afinal, a Escola emergiu na história com a propriedade privada, como lugar do ócio, destinada aos que não precisavam trabalhar para viver, que podiam gozar o ócio, porque havia a classe dos que só viviam para trabalhar. Daí que o acesso à Escola não significou, per si, a conquista do conhecimento; pois, a classe proprietária tratou de desqualifica-la, através das mais deletérias políticas educacionais – ou seja, de lugar de produção e difusão do Conhecimento, quando servia apenas à classe proprietária, a Escola passou a ser instrumento de sua negação.

Então, conquistada a Escola, os Trabalhadores perceberam que era necessário seguir a luta para a conquista da Educação que viabiliza o Conhecimento. É esta luta que está em curso, para que não se torne realidade, a recomendação” de Smith; que exige, mais que Escola e Professores (além de uniforme, caderno, livro, lápis, computador etc.), uma ambiência social favorável ao ensino e à aprendizagem. Sim, é necessário criar, em confronto a esse processo de ignorantização das massas, uma nova atmosfera cultural na sociedade, favorável ao Conhecimento; de forma a construir uma compreensão realista, econômico-social, sobre a necessidade da Educação, da Escola Básica, da Universidade – e, assim, saber que as plataformas e redes sociais não as substituem, e que os tais influencers não são, nem Professores e, menos ainda, Cientistas.

Professor Dr. Elismar Bezerra Arruda é professor da rede pública de ensino

 

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Fabiano 18/08/2024

As eleições estão aí, vamos renovar colocando gente que tem propostas para a educação

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Sergio ( baixista ) 17/08/2024

Muito bom ver um artigo do professor Elismar, grande pensador e um poeta quando nas suas composições retrata as belezas do nosso Pantanal.

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2 comentários

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