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Opinião Sexta-feira, 24 de Maio de 2024, 12:06 - A | A

Sexta-feira, 24 de Maio de 2024, 12h:06 - A | A

JOÃO ELOY

Mascates I

João Eloy

No povoado tínhamos um certo pavor de mascates, com suas malas de papelão lotadas de mercadorias que, para nós, eram consideradas artigos de luxo.

A comunidade, em sua maioria, era composta de pessoas muito pobres. O pouco que obtinham mal dava para seu próprio sustento.

Os homens, desde a mais tenra idade, eram doutrinados para a lavoura. Ganhavam de seus pais as ferramentas e um pedaço de terra para cultivar.

As mulheres tinham como profissão “prendas domésticas”. Desde cedo aprendiam a tecer, costurar, cozinhar, lavar e passar. Nas outras horas do dia formavam grupos e iam catar lenha no mato, para abastecer os grandes fogões. As crianças acompanhavam e traziam na cabeça feixes de gravetos.

As bem pequenas usavam chambalés ou casabeques: vestimentas de algodoim ou mescla que cobriam apenas seu tórax. Assim os meninos tinham livres seus “pipius”, ao vento, fazendo suas necessidades a céu aberto. É que ninguém vencia lavar tamanha quantidade de roupas das proles tão numerosas, sempre com mais de dez filhos.

Toda casa de família possuía uma bacia bem grande, onde as roupas sujas eram colocadas para serem lavadas nos córregos mais próximos, onde quaravam nas pedras cangas à beira d’água.

A água do riacho cantando nas gretas das pedras, ensejava alegres cantorias, próprias das lavadeiras.

As crianças participavam na hora de recolher a roupa seca, pois as donas de casa estavam envolvidas em outros afazeres como: rachar lenha, socar arroz no pilão, torrar café, alimentar as criações, varrer a casa e muito mais.

Então, quando chegava o mascate, era um estorvo e um espanto na pequena comunidade. Estorvo porque ninguém dispunha de condições financeiras ou de tempo para perder com o que eles ofereciam: lençóis de seda, tapetes, quadros com imagens de santo ou do papa, roupas íntimas, bijuterias, perfumes etc. Tudo muito lindo, macio, cheiroso e ... caro!

Esses artigos supérfluos, se adquiridos, poderiam desfalcar as economias das famílias ...

Assim, todos tinham medo do grande poder de persuasão daqueles mascates, educados, sedutores e de fala mansa, em sua maioria descendentes de libaneses, sírios ou turcos.

Mesmo que os aldeões se recusassem a recebê-los eles se achegavam, solicitando apenas um copo d’água, enxugando o suor abundante em seus rostos.
Quando se dirigiam às pessoas, sempre teciam grandes elogios ao lugar e aos habitantes e, num piscar de olhos, já se sentiam íntimos, dando tapinhas nas costas de todos. Chamavam-nos compadres ou “brimos”.

Assim, a população era rotulada de povo triste e desconfiado. Também pudera! O isolacionismo era muito grande, mas, mesmo assim, repetidas vezes, aqueles vendedores ambulantes retornavam insistentemente, novamente tentando comercializar suas mercadorias tão sedutoras e, ao mesmo tempo, inatingíveis para a maioria dos moradores da pequena aldeia.

João Eloy é chapadense, médico, professor, escritor, compositor, músico, apresentador do Programa Varanda Pantaneira e articulista do Alô Chapada.

 

O Alô Chapada não se responsabiliza pelas opiniões emitidas neste espaço, que é de livre manifestação

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Raimunda souza 24/05/2024

E realmente apesar de todas pobreza, éramos felizes, preservavam se os valores morais e civicos. Infelizmente coisa que não vemos hoje...

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1 comentários