Após os 85 anos tive três quedas — a mais importante no banheiro.
Senti que iria cair e não possuía forças para me sustentar em pé.
Consciente, escolhi a porta de entrada do banheiro para desabar, batendo fortemente a região occipital no chão.
Não houve ferida aberta, apenas um enorme hematoma, ‘chamado de galo’, e escoriações generalizadas.
Fui colocado na cama pelas cuidadoras e fiquei em observação, temendo o hematoma cerebral.
Compressas de gelo no primeiro dia e de calor depois.
Fiquei roxo durante trinta dias, especialmente no rosto e membros superiores.
Graças a Deus me safei sem sequelas desse acidente doméstico.
Um ano depois, ao me levantar da cama, caí abruptamente batendo a cabeça nas maçanetas das gavetas da minha mesinha do quarto, quebrando com o occipital uma delas e entortando a outra.
Chamei por socorro para alcançar o colchão da cama do meu dormitório.
Não houve ferida, apenas escoriações pelo corpo e o ‘galo’ occipital.
Este ano eu consegui cair no espaço entre a minha cama e a mesinha ao lada da cabeceira.
Nos três casos não houve necessidade de exames de imagens.
Daí para frente, só levanto da cama com o apoio de um ‘braço amigo’.
A campainha de mão passou a ser a minha companheira inseparável.
Tomo banho de chuveiro sentado na cadeira, e não faço mais a barba de pé em frente ao espelho do banheiro.
Sou portador de disautonomia, uma doença que afeta o sistema nervoso autônomo, responsável por comandar ações automáticas, sem que haja interferência do paciente.
Um dos sinais mais frequentes da disautonomia é a dificuldade em ficar de pé por muito tempo devido à ocorrência da tontura, hipotensão e queda.
É uma doença que não mata e não tem cura.
O melhor remédio é sempre ter um ‘braço amigo’ para me levantar e caminhar.
Essa é a razão que não saio mais de casa, a não ser para ir ao médico e dentista.
Muitos estranham a minha ausência nesses eventos festivos, e o motivo é a disautonomia.
Procuro ser o mais cuidadoso possível para evitar outras quedas, uma das três causas mais frequentes de óbitos em idosos.
*Gabriel Novis Neves é médico, fundador e ex reitor da UFMT
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