Algumas pesquisas divulgadas na última semana trouxeram a lume a realidade quanto a representação das mulheres para a economia atual. Pela primeira vez foi aferido que existem mais mulheres na posição de comando das casas brasileiras.
Pelo Censo de 2022, do IBGE, 34,1% são responsáveis pela casa, e 25% foram apontadas como cônjuge ou companheira. É de se ressaltar que o Censo de 2010 mostrava um cenário de que 22,9% eram responsáveis pelo lar. Os noveis números mostraram que o comando de casa por mulheres passou a ser praticamente na mesma proporção dos homens.
De outro lado, pesquisa da Catho “Mães 2024” divulgada na Revista Crescer, externa os desafios enfrentados pelas mulheres e mães no mercado de trabalho. As mulheres, 86% delas, relataram ser frequente em entrevista de emprego a pergunta: “Você tem filhos?” Essa dúvida se torna bastante preocupante, externando a sobrecarga materna quando se cuida da vida profissional do gênero feminino.
Se não bastasse a pergunta quanto a ter ou não filhos e filhas, as mulheres ainda são “bombardeadas” com o questionamento de quem ficaria responsável pelos descendentes delas enquanto elas laboram, em 75%. É de se ressaltar as que já encontram inseridas nas carreiras, cerca de 40% delas relatou ter perdido oportunidade de promoção ou desenvolvimento por ser mãe. Outras 52% relataram que deixaram de exercer alguma atividade como mãe por medo de perder o emprego. As discriminações contra elas não param por aí, pois 50% das participantes da pesquisa foram questionadas se tinham a intenção de serem mães.
Voltando ao comando dos lares por elas, segundo o IBGE, em 10 estados do Brasil, 8 do Nordeste, as mulheres comandam mais da metade das casas. Os menores dados são de Rondônia (44,3%) e Santa Catarina (44,6%). Mostra o estudo que 29% das casas onde as mulheres são responsáveis há presença de um filho ou filha e ausência de cônjuge. As mulheres são mães solo em 3 a cada 10 lares. No comando dos domicílios por mulheres, as negras são responsáveis por 6% das casas que possuem mais de seis pessoas.
Essas pesquisas dizem muito sobre como o patriarcado colocou em oposição homens e mulheres. Os desafios que tomam conta da sociedade demonstram a desproporcionalidade do cenário profissional entre os gêneros. As mulheres carecem de suporte adequado a exercerem as jornadas que estão sendo propostas. As duplas e triplas jornadas femininas existem, e persistem em um mundo onde o PIB depende sobremaneira das mulheres. Vê-se que mesmo comandando os lares, persistem as discriminações.
A divisão sexual do trabalho ainda é fator a controlar as muitas tarefas delas. Anteriormente era visível os papeis de gênero delineados de maneira bem clara. Homens que não podiam falhar em absolutamente nada, por serem fortes; e mulheres como esposas e mães zelosas e boas donas de casa. Mulheres abandonavam os sonhos e deixavam que apenas os seus parceiros pudessem alcançar o reconhecimento no labor fora de casa.
Os dois estudos citados trazem reflexões precisas dos estereótipos de gênero, compreendidos como repetição automática de comportamentos e papeis estabelecidos entre homens e mulheres, como assinala Silvia Pimentel.
Rupi Kaur foi precisa: “Qual é a maior lição que uma mulher pode aprender? Que desde o primeiro dia, ela sempre teve tudo o que precisa dentro de si mesma. Foi o mundo que a convenceu que ela não tinha.”
*Rosana de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.
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