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Opinião Segunda-feira, 04 de Novembro de 2024, 18:00 - A | A

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NEILA BARRETO

O bolo de arroz está no céu

Neila Barreto

O bolo de arroz sempre esteve presente no meio da população cuiabana e mato-grossense.

 

Há tempos atrás passeei pela lixeira com o seu Eurico, já falecido e Dona Eulália. Seu Eurico ensinou-me os lugares de água que brotavam ali no bairro da Lixeira, no centro de Cuiabá, por perto da igreja do Rosário e São Benedito. Era o período da pesquisa sobre a água de beber em Cuiabá. Lá eles acompanharam a minha pesquisa junto ao, meu orientador, professor doutor Otávio Canavarros. Lembro-me que o jornalista Elias Neto até gravou um especial para a TV Centro América, sobre o assunto. As visitas sempre acabavam com um cafezinho e um bolo de arroz.

De Aricazinho, distrito de Cuiabá. Seu Eurico era pedreiro, e ela, Eulália, boleira em Cuiabá. Eulália da Silva Soares nasceu a 13 de janeiro de 1934, filha de João Leocádio Rodrigues e Eugênia de Adelina Rodrigues, casou com Eurico Avelino Soares. E tiveram os filhos, Feliciana; Margarida; Edith; Maria; Claudiney; Claunildo; Claudete e Claudinete. Têm 22 netos e 34 bisnetos.

Dona Eulália adentrou na cidade com o bolo de arroz após aprender as técnicas com a sua tia e, com muita vontade de produzir os bolinhos, pediu para o seu Eurico, seu marido que era pedreiro construir um forno para ela aprender melhor e iniciar a sua produção, desde o ano de 1956. Assim, há mais de 68 anos fazia a alegria da cuiabania, turistas, visitantes e familiares.

Em Cuiabá, nas festas tradicionais, o bolo de arroz sempre está presente. Em 1954 o Clube Feminino convidava a população para a festa e nele o bolo de arroz constava dos convites tradicionais como chamariz para os convidados e participantes.

Eram festas lindas e maravilhosas que havia no passado, festas essas que deixaram eternas saudades. Eram servidos café com leite, toddy, bolo de arroz, bolo de polvilho e francisquitos. Hoje essas festas foram levadas para dentro dos clubes e buffets da cidade. Nelas não há presença dos devotos mais humildes. Elitizou. Por exemplo, as cozinheiras das festas de São Benedito nem são lembradas nessas festas. Nunca foram homenageadas e nem o bolo de arroz.

Nas festas populares não havia tristezas, mágoas, tudo era esquecido. Nas esmolas sempre havia o almoço nas casas dos festeiros e sempre com a presença do bolo de arroz.

Dona Eulália faleceu no último dia 28 de outubro de 2024, aos 90 anos de idade. Para a sua clientela que continuará frequentando o seu “chá com bolo”, dona Eulália deixou eternizado em sua parede, no espaço Centro Cultural dona Eulália, o seguinte: “Felicidade para mim é a fé que tenho até hoje. É poder rezar todos os dias e ver que tudo que eu recebo é pela graça de Deus. Agradeço todos os dias a união da minha família, os fregueses que eu tenho, tudo. Eu não esperava que ia dar tão certo até hoje”.

O bolo de arroz é um prato típico de Mato Grosso chancelado pela Lei n° 10.514 de 18 de janeiro de 2017, e um dos principais símbolos da cultura cuiabana e mato-grossense.

*Neila Barreto é membro da AML e presidente do IHGMT desde setembro/2020 aos dias atuais

 

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