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Opinião Segunda-feira, 17 de Fevereiro de 2025, 09:41 - A | A

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ELISMAR BEZERRA ARRUDA

O impensável de outrora: Escolaridade sem conhecimento

Elismar Bezerra Arruda

No Sertão as Crianças com capacidade para algum trabalho, levantavam cedinho: banhavam-se preguiçosamente de Alvorada, e viam os primeiros raios do Sol; aprendiam assim, a serem adultas trabalhadoras – meninos e meninas. As Crianças cresciam se inimizando da preguiça, da vagabundagem, de modo que o Trabalho nunca lhes pareceu algo estranho: apenas foi-se transmutando conforme a complexidade e diversidade das atividades necessárias, que foram tendo que aprender e realizar. O Trabalho, desde a tenra idade, é o elemento pedagógico mais sadio e eficiente para a formação do Caráter – o problema, foi a sua degeneração pelo Capital, que o transformou em tormentoso instrumento de sucção das energias do Trabalhador para produzir mercadoria...


Comercializada em quantidade e qualidade cada vez mais crescente e aprimorada, tudo em vista da produtividade que, em resumidas contas, significa produzir mais com menos recursos – essa mercadoria possibilitou ao capitalista mais e mais lucro, riqueza, crescimento, a requerer mais e mais mão de obra, cada vez mais barata, relativamente, para mais produção e lucro. Para isto, os empresários passaram a empregar até Crianças de 7, 8, 10 anos de idade que, ao pé das mães, trabalhavam 12, 15 hora por dia, em fábricas absolutamente insalubres, conforme se vê nas fotografias de fábricas inglesas e norte-americanas do início do Século passado; um fenômeno que volta a ocorrer em diversos países, inclusive nos mais desenvolvidos.


Viu-se, então, que, sem uma regulamentação legal, proibitiva, a fome insaciável do capital degeneraria a vida humana irremediavelmente, desde a tenra idade dos trabalhadores e de seus filhos e filhas. Daí, diversos sujeitos das mais diversas partes do Globo, inteligentes, sensíveis e solidários, puseram-se à frente da sociedade (padres, pastores, freiras, sindicalistas, jovens e donas de casa, prostitutas, alfaiates e boias-frias etc.), organizaram e lideraram belíssimas lutas, às vezes em armas, para impor limites à sanha exploratória do capital e de seus controladores – proibindo-o, assim, de abusar do trabalho infantil...


A ignorância, como instrumento de controle perverso das massas, que, com esta finalidade, desenvolve-se como um processo político-pedagógico de negação do conhecimento – tem como uma de suas mais eficazes estratégias, nunca tratar dos conceitos das coisas, por suas significâncias concretas. Toma-as, por conseguinte, tal como se apresentam, e como se sempre tivessem existido por essa afiguração rasa. Esse processo de ensino às avessas se desenvolve assim, precisamente porque o conceito concreto das coisas requer conhecer, revisitar a sua história: a sua gênese, os elementos que a constitui, o seu desenvolvimento, a sua utilidade e, consequentemente, a quem interessou ou interessa a sua existência. Mas, esse processo de ignorantização não pode se desenvolver absolutamente abstrato, pela mentira absoluta, sem conexão com a verdade, com a realidade; então, toma-se nesgas do real, fragmentos da verdade, para sustentar a deformação que alimenta a ignorância das coisas, dos fatos, dos acontecimentos, afigurando essa deformação conceitual como verdade. A saber...


Quando a extrema-direita (que é a posição política mais perversa do capital, que chega ao absurdo de caracterizar os liberais como de Esquerda) diz que é errado não permitir que crianças trabalhem e, repetindo Max Weber, que “o trabalho dignifica o homem” (sem dizer, entretanto, que, ao tempo em que apenas “dignifica” o trabalhador, enriquece o empresário) – não está totalmente equivocada. De fato, conforme indicado no início, o Trabalho na forma das mais diversas atividades, desenvolve a inteligência, a cooperação, a solidariedade, efetivando-se como a fonte primária de conhecimento do homem sobre o mundo e sobre si mesmo no mundo; mas, não sob o interesse e a necessidade capitalistas. Sob o capital, o Trabalho se tornou instrumento de ignorantização, individualismo e empobrecimento do Trabalhador e da Trabalhadora – inclusive, por incrível que possa parecer, também do Docente, do Professor!


Ora, a Escola é o lugar determinado pela sociedade para tratar do Conhecimento, de modo que o Trabalho Docente, as atividades do Educador, do Professor, têm como finalidade difundir, desenvolver e recriar o Conhecimento em face do Aluno, do Estudante, com vistas à sua aprendizagem. Ocorre que o Conhecimento é o elemento fundamental para o desenvolvimento social, notadamente pela qualificação do processo produtivo – daí que, para os donos da economia, para os grandes capitalistas seguirem controlando o processo produtivo, precisam ter também o monopólio do Conhecimento; com efeito, os Trabalhadores não podem conhecer além do estritamente necessário para serem empregados no processo produtivo, onde fazem o que é determinado pelo empresário, no tempo, na forma e na quantidade que este quer. Mas, na Escola, isto não ocorria assim; para desespero da classe proprietária e seus sabujos capitães-do-mato, o processo escolar se desenvolvia, em grande medida, sob a direção do Professor...


Enquanto na empresa, o Trabalhador não tem qualquer controle sobre o processo produtivo – na Escola, o Professor e a Professora eram os que organizavam e realizavam o processo escolar, a partir das definições próprias do processo de ensino-aprendizagem; ou seja, por essa autonomia pedagógica, estabeleciam uma forma administrativa consoante à natureza da Escola, alheia àquela ditadura empresarial. Eis aí, o motivo de a classe proprietária tentar desqualificar a Escola Pública por todos os meios de comunicação que controla, difundindo baboseiras como a mentira de que a má qualidade do ensino se devia às ideias comunistas, ideologias esquerdistas etc., ensinados pelos Professores em sala de aula – quando na verdade, o motivo do ódio da classe proprietária, era não poder determinar o processo educacional-escolar, tal como na empresa privada.


No capitalismo, o empresário, pelo controle intransigente do processo produtivo a partir da empresa privada, em grande medida é o dirigente da sociedade; entretanto, no Serviço Público, especialmente na Escola Pública, esse poder se esvanece, de forma a não conseguir controla-los e lhes impor as suas vontades e interesses; daí a crítica à suposta improdutividade e incompetência a tudo o que é público – indicando que assim é, porque os Serviços Públicos não são organizados e desenvolvidos segundo a forma administrativa empresarial. No caso da Escola Pública, a sua vontade intransigente é de controlar os processos de ensino-aprendizagem, reduzindo-os a programas de treinamento em vista da necessidade imediata da empresa privada – inclusive para que esta tenha excesso de mão de obra qualifica disponível, como forma de reduzir seu custo.


Tudo muda, e o capitalismo sabe disso. Temos agora, com o desenvolvimento das tecnologias da informação, a possibilidade em curso de a classe proprietária controlar e determinar as finalidades do processo educacional-escolar, conduzindo-o para atender às suas necessidades e interesses. Em nosso caso, esse processo atende pela alcunha de SEE – Sistema Estruturado de Ensino, que, em resumidas contas, objetiva fundamentalmente: a) anular o protagonismo didático-pedagógico do Professor, tornando-o “gestor de aprendizagens”, isto é: aplicador das coisas prontas e encaminhadas pelas instâncias superiores da Educação, b) elevar os índices de escolaridade, sem garantir o Conhecimento aos alunos. Sim, o “sistema” está realizando a sua finalidade deletéria: os índices de escolaridade aumentaram e os nossos alunos, em sua maioria, sequer dominam a leitura, a escrita e o cálculo matemático elementar; qualquer Pai ou Mãe pode comprovar isto: basta testar a “desenvoltura” dos seus filhos com a leitura, a escrita e a resolução de um problema simples usando as quatro operações matemáticas básicas.

*Prof. Dr. Elismar Bezerra Arruda é professor na rede pública de ensino

 

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