Dignidade (1987). Cidadã brasileira (1990). Comprometida (1992). Atitude (1993). Autoestima (1999). Os títulos dos álbuns da cantora e compositora Leci Brandão dizem muito sobre a cidadã brasileira Leci Brandão da Silva.
Nascida em 12 de setembro de 1944, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), a artista chega hoje aos 80 anos como forte símbolo de resistência, pioneirismo e atitude na música e na sociedade.
Admitida em 1972 na ala de compositores da Mangueira, em ação que abriu alas femininas para as mulheres no samba décadas após a entrada de Dona Ivone Lara (1922 – 2018) na roda, Leci Brandão tem importância que transcende o universo dos bambas.
Mulher, negra, lésbica e seguidora de religião de matriz afro-brasileira, a artista carioca pôs na pauta da década de 1970 questões sobre negritude e o universo LGBTQIAPN+ quando pouco ou nada se falava sobre o assunto.
“A gente já é marginalizado pela sociedade. Então a gente se une, se junta e dá as mãos. E um ama o outro sem medo e sem preconceito. Quero que as pessoas enxerguem meu lado homossexual como uma coisa séria, que haja respeito”, reivindicou a cantora e compositora carioca em entrevista publicada em novembro de 1978 na sexta edição do militante jornal Lampião da Esquina, direcionado ao público homossexual.
Na época, Leci lançava o quarto álbum, Metades (1978), título de importante fase da discografia da artista que ainda precisa ser redescoberta e redimensionada.
Álbuns como Questão de gosto (1976) e Coisas do meu pessoal (1977) marcaram posição em sintonia com a postura engajada que norteia a trajetória da artista e da cidadã.
Leci Brandão pôs os pés na profissão em 1968 com participação no programa de calouros A grande chance (TV Tupi), saindo vitoriosa em categoria dedicada aos compositores. Foi descoberta como cantora nas rodas de samba do Teatro Opinião, onde entrara em 1973, ano em que também ganhou projeção como compositora do samba Quero sim, feito em parceria com Darcy da Mangueira (1932 – 2008).
Leci gravaria Quero sim em 1974 no EP que marcou a estreia da cantora no mercado fonográfico, em edição da gravadora independente Marcus Pereira. Em 1975, a mesma gravadora pôs no mercado o primeiro álbum da cantora, Antes que eu volte a ser nada.
Leci Brandão jamais voltou a ser nada. Ao contrário. Desde então, tem sido muito. Banida da indústria do disco em 1980 por se recusar a seguir as fórmulas do mercado, voltou a fazer sucesso em 1985 na onda do pagode carioca, já na gravadora Copacabana, pela qual editou os títulos mais populares da obra fonográfica, com destaque para os álbuns Leci Brandão (1985), Um beijo no seu coração (1988) e As coisas que mamãe me ensinou (1989).
Leci viveu período de menor visibilidade ao longo da década de 1990. Foi contratada pela então atuante gravadora Trama em 1999, mas se deu melhor na Indie Records ao longo dos anos 2000, década em que, já residindo em São Paulo (SP), flertou com o pagode romântico de grupos formados por jovens sambistas.
A militância contínua motivou Leci Brandão a seguir vitoriosa carreira política paralelamente à atuação na música a partir de 2010. Foi eleita deputada estadual por quatro vezes consecutivas em São Paulo.
É por isso que hoje, aos 80 anos, Leci Brandão da Silva simboliza a cidadã brasileira que jamais deixou de levantar a voz contra o racismo, a desigualdade social e as diversas formas de opressão que tentam calar o povo brasileiro. Viva Leci!
Entre no grupo do Alô Chapada no WhatsApp e receba notícias em tempo real