O setor de apostas online, ou "bets", no Brasil movimenta cerca de R$ 130 bilhões por ano, um valor que ultrapassa o orçamento de quase todos os estados, exceto São Paulo, cujo orçamento para 2024 está estimado em R$ 307,7 bilhões. Minas Gerais (R$ 114,4 bilhões), Rio de Janeiro (R$ 96,4 bilhões) e Rio Grande do Sul (R$ 80,3 bilhões) têm orçamentos significativamente inferiores. Esse dado impressionante reflete o impacto econômico das apostas, que superam 96% dos orçamentos estaduais e estão causando consequências graves em diversos setores da sociedade.
O efeito desse crescimento descontrolado é sentido no mercado de trabalho, onde muitos trabalhadores estão deixando seus empregos na esperança de viver dos ganhos das apostas. No entanto, a realidade é que a maioria acaba perdendo tudo, o que gera ciclos de desemprego e endividamento. No setor educacional, a situação também é preocupante, com 4 em cada 10 estudantes abandonando a faculdade para usar o dinheiro das mensalidades em apostas. O impacto financeiro se estende ainda ao varejo, onde a Confederação Nacional do Comércio (CNC) relatou que mais de 1,3 milhão de brasileiros ficaram inadimplentes devido às apostas entre 2023 e 2024. A CNC estima que 22% da renda disponível das famílias foi direcionada a apostas, o que levou a uma redução no consumo de bens essenciais, resultando em perdas de até R$ 117 bilhões para o comércio, hoje de 8%, podendo a curto prazo, chegar a 20%.
Além da crise econômica, o vício em apostas também tem gerado uma crise de saúde pública. Hospitais e planos de saúde relatam um aumento nos casos de depressão, ansiedade e estresse financeiro entre os apostadores. O fácil acesso de adolescentes entre 14 e 18 anos a essas plataformas agrava ainda mais a situação, uma vez que influenciadores digitais e campanhas publicitárias promovem a ideia de riqueza rápida e fácil. Esses jovens, que estão em uma fase de desenvolvimento crítico, são especialmente vulneráveis a essas mensagens e acabam acreditando que as apostas são um caminho para o sucesso financeiro, o que pode levar a comportamentos compulsivos e vício.
Outro ponto de preocupação é a crescente relação entre apostas e o futebol no Brasil. As plataformas de apostas são patrocinadoras de muitos clubes, campeonatos e estádios, o que normaliza o ato de apostar entre os torcedores. Para os jovens, essa ligação é particularmente perigosa, já que associa ídolos e times às apostas, incentivando a ideia de que ganhar dinheiro com o futebol é fácil e rápido. Essa exposição constante a estímulos de apostas, especialmente no futebol, pode aumentar o risco de vício, principalmente entre os mais vulneráveis.
O problema é amplificado pela falta de regulamentação e fiscalização rigorosa no setor. Muitas plataformas de apostas estão localizadas em paraísos fiscais e operam fora do controle das autoridades brasileiras, o que facilita crimes como fraudes e lavagem de dinheiro. A falta de uma regulação eficiente também coloca em risco a segurança digital dos apostadores, que têm seus dados pessoais e financeiros expostos a hackers e criminosos cibernéticos.
Diante desse cenário, a necessidade de um marco regulatório robusto é urgente. O governo e o Congresso precisam criar regras claras para o setor de apostas online, incluindo auditorias regulares de segurança e maior proteção de dados. Políticas de fiscalização rigorosas são essenciais para monitorar o fluxo financeiro das apostas e prevenir atividades ilícitas. A regulamentação não apenas garantirá a segurança dos consumidores, mas também permitirá um controle mais eficaz do setor, gerando benefícios econômicos, como a arrecadação de impostos, e criando um ambiente mais seguro para todos os envolvidos.
O crescimento descontrolado do setor de apostas online no Brasil tem causado danos profundos à economia, à saúde mental da população e à segurança digital. Com um volume financeiro que ultrapassa o orçamento da maioria dos estados, é imperativo que o governo intervenha com urgência para proteger os consumidores e mitigar os danos. Afinal, no mundo das apostas, "quem sempre ganha é a banca" — e essa "banca" tem causado impactos negativos que precisam ser urgentemente controlados.
*Oscar Soares Martins é Consultor especialista em cybersegurança.
O Alô Chapada não se responsabiliza pelas opiniões emitidas neste espaço, que é de livre manifestação
Entre no grupo do Alô Chapada no WhatsApp e receba notícias em tempo real