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Opinião Terça-feira, 04 de Fevereiro de 2025, 18:00 - A | A

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GABRIEL NOVIS NEVES

O tempo dentro de casa

Gabriel Novis Neves

Como muda o tempo que passamos em casa ao longo dos anos! Forma-se um círculo, quase perfeito.

A rotina dentro de quatro paredes de uma criança e de um velho se assemelha mais do que imaginamos.

A criança, ao nascer, conhece primeiro o aconchego dos braços maternos e o berço onde dorme. O velho, já sem a autonomia da juventude, depende das cuidadoras para se alimentar e do leito para descansar.

Na juventude, a casa se torna apenas um ponto de passagem. Estuda-se, trabalha-se, namora-se — e o lar fica em segundo plano.

A maturidade chega, a vida se expande. Filhos nascem, novos lares são formados, e o tempo dentro de casa se torna cada vez menor.

Mas na velhice, o ciclo se fecha. O idoso passa a maior parte do tempo no lar e, se for longevo, chega o dia em que se vê só, dependente, como a criança nos primeiros anos de vida.

Ao longo da vida, carrego na memória as casas que habitei.

Quem não se lembra da casinha pequena onde nasceu?

Da casa maior onde cresceu?

Das casas onde morou e viu nascer seus filhos?

E da grande casa de agora, onde permanece?

Em cada uma, há lembranças vivas, objetos impregnados de história, rotinas que deixaram poeira de saudade.

Sinto isso agora, ao trocar o forro verde de veludo da escrivaninha e do oratório por um novo. Mais de cento e cinquenta anos de história foram alterados diante dos meus olhos, marcados pelo tempo e por duas cidades distantes.

Parte da memória que essas peças carregavam foi apagada. Mas não para mim, que conheço o filme das pessoas que já partiram.

Os móveis de uma casa têm a cara dos seus donos, e os velhos lhes dão nome.

Na minha sala de visitas, há a “cadeira da Regina”, minha mulher, falecida há dezoito anos. Ela gostava de repousar ali, estatelada, após um longo dia.

As cadeiras de balanço com palhinha, no encosto e no assento, são as “cadeiras da mamãe”. Herdei delas e, nelas, ainda a vejo sentada.

O ambiente de uma casa de velho é assim: impregnado de histórias, cercado por rotinas monótonas e pela companhia silenciosa da solidão.

 *Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT.

 

 

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