João Teodoro vivia na cidadezinha de Itaoca, interior do estado de São Paulo. Como todas as cidades de políticos corruptos, Itaoca foi minguando de tamanho e
recursos. Mas o matuto não era tão simples para não pensar no futuro, imaginava consigo mesmo e deliberou lá por dentro. Quando eu verificar que tudo está perdido, que Itaoca não vale mais nada de nada, então arrumo a trouxa e boto-me fora daqui.
Certo dia, quando a cidade de Itaoca vivia seus momentos finais, aconteceu a grande novidade: a nomeação de João Teodoro para delegado. Nosso homem recebeu a notícia como se fosse uma porretada no crânio. Delegado, Eu? Logo ele, que não era nada, nunca fora nada, não queria ser nada, não se julgava capaz de nada, logo ele?
Ser delegado numa cidadinha daquelas é coisa seríssima. Não há cargo mais importante. É o homem que prende os outros, que solta, que manda dar sovas, que vai à capital falar com o governo. Uma coisa colossal ser delegado - e estava ele, João Teodoro, de-le-ga-do de Itaoca? Era demais para sua cabeça.
João Teodoro caiu em meditação profunda. Passou a noite em claro, pensando até que decidiu arrumar as malas. Pela madrugada botou a bagagem no lombo do burro, montou no seu cavalinho magro e partiu.
Ia saindo da cidade quando um conhecido o encontrou e lhe perguntou: - onde vai joão? - Está saindo de fininho logo agora que foi nomeado delegado?
João Teodoro com sua honestidade consciente respondeu:- justamente por isso.
Terra em que João Teodoro chega a delegado, eu não moro. Adeus!
E sumiu.
Lobato, Monteiro. Um homem de consciência. In Cidades Mortas. 12ª edição. São Paulo,
Brasiliense, 1965. p. 185-6.
Ana Angélica Pereira da Costa é advogada, formada em Letras e especialista em Literatura brasileira, Interpretação de textos e Redação.
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